Professor Antônio Vieira
Assim como precisamos de amor para alimentar a nossa alma, precisamos do toque para alimentar o nosso corpo, e o Shiatsu é um dos meios para isso.
Popularmente, o Shiatsu é considerado apenas uma massagem oriental, mas é mais do que isso: é uma forma de recuperarmos o estado de “ser criança”.
A palavra “massagem” vem de “amassar” – o que não define totalmente o Shiatsu, pois além de amassamentos (manobra que lembra a massagem nos ombros, por exemplo), utiliza também pressões (shi = dedo; atsu = pressão), alongamentos e manipulações (inclusive na coluna vertebral).
O nosso corpo possui mais de 2.000 pontos de acupuntura (pelos quais se absorve energia vital). Muitos deles encontram-se ao longo de canais de energia (ou Meridianos) e sua função é transportar a energia absorvida até os órgãos e vísceras que governam. Por eles circula a energia vital tal como o sangue corre pelos vasos sanguíneos. Assim, há o Meridiano do Coração, o Meridiano do Rim, etc.
Quando os pontos ficam bloqueados (devido aos traumas emocionais, fumo, álcool, drogas, pensamentos desarmoniosos, etc) a energia vital chega com maior dificuldade aos órgãos, prejudicando-os, sendo o início da doença. Um sintoma que denuncia estarem bloqueados é a dor sentida quando pressionados. Durante o Shiatsu, a cada pressão sobre eles, o bloqueio – bem como a dor – vão gradualmente se dissolvendo.
Com isto, o Shiatsuterapeuta dissolve a doença (bloqueio) ainda no nível de energia, impedindo que ela chegue ao corpo físico.
Quando crianças éramos mais alegres, felizes, espontâneos porque não tínhamos bloqueios. A criança se diverte com tudo, desfruta a vida aqui-e-agora. Mas hoje não sentimos com tal intensidade aquela alegria, luz, vivacidade porque temos muitos bloqueios e atitudes que geram ainda mais bloqueios – preocupações, medos, ansiedade, regras sociais rígidas, crenças aprisionantes, stress e muitas outras.
Entretanto, podemos “voltar a ser crianças” através do Shiatsu, pois cada vez que nos é aplicado com o coração, em sintonia com o Universo, vão se desmontando nossas armaduras emocionais, nossos mecanismos de defesa inconscientes que impedem o contato espontâneo e sem medo com as outras pessoas, abrindo o caminho para que recebamos o amor, o afeto das pessoas que o tenham para dar, ao mesmo tempo que também deixamos fluir o amor que há em nós para os que nos cercam.
A energia vital que circula pelo corpo está em tudo: na natureza, nos alimentos, nos líquidos que bebemos, mas é absorvida principalmente através do ar que respiramos.
Esta energia desprende-se do sol e impregna toda a atmosfera. Você pode vê-la como pontinhos brancos movimentando-se rapidamente em todas as direções ao fixar seu olhar num céu azul.
Ela é a energia de vida do Universo, ou seja, amor. Vivemos num mar de energia e de amor que nossos afazeres diários nos impedem de perceber.
A natureza desta energia é nos preencher de alegria, felicidade, amor, prazer, paz e sensibilidade.
Portanto, quanto mais energia vital você absorve, mas sensível à vida e feliz você se torna.
Entretanto, a maior parte de nós respira incorretamente: preenchemos com ar apenas a parte superior dos pulmões, estufando o peito e com isso, não conseguimos expulsar os gases tóxicos contidos nas partes média e inferior (além de absorver menos oxigênio e energia vital que a capacidade dos pulmões permite), ocasionando envelhecimento precoce da pele, dos órgãos e prejuízos para a eficiência mental e a saúde. Por isso devemos reaprender a respirar com os bebês: ao inspirar eles estufam o abdome e ao expirar o contraem.
Ao respirar corretamente (respiração abdominal) você absorverá um excedente de energia vital no seu corpo e terá mais alegria, estrutura emocional e física para enfrentar as situações do dia-a-dia, ou seja, com menor stress e maior eficiência.
Mas infelizmente respiramos curto e rápido, ofegantes em meio à correria e stress diários. Mas por que começamos a respirar superficialmente, curto e rápido? Por defesa. Para sofrer menos. Quando crianças os adultos nos repreendiam asperamente, batiam, gritavam, deixavam-nos com medo. Como respirávamos corretamente, absorvíamos muita energia vital e como ela é sinônimo de sensibilidade, sentíamos tudo intensamente, seja a felicidade, seja o sofrimento. Assim, inconscientemente começamos a respirar curto para absorver menos energia vital, diminuindo assim a nossa sensibilidade e conseqüentemente, o nosso sofrimento.
Só que essa estratégia não dá certo, pois ao mesmo tempo que ela fecha a porta para a percepção da infelicidade, também fecha para a da felicidade. Ficamos, então, com a nossa sensibilidade amortecida para a vida: não sentimos o sabor dos alimentos; não sentimos a alegria de estar vivos; não encontramos sentido na vida; não conseguimos amar o sexo oposto, nem desfrutar um dia a sós conosco mesmos. Parece, portanto, que a vida quer que aprendamos a aceitar ambas as sensações, sabendo lidar com elas sabiamente.
E como a nossa felicidade interior está bloqueada, passamos a buscá-la fora de nós, através de um automóvel novo, de um apartamento novo, status, sucesso, respeito alheio, dinheiro ou um grande amor. Todavia a felicidade interior não precisa ser conquistada, mas apenas descoberta.
Portanto, a felicidade interior do tempo que éramos crianças ainda está em nós; apenas está bloqueada por mecanismos de defesa que o Shiatsu através do toque é capaz de afrouxar e finalmente dissolver. Afinal de contas, a felicidade é o estado de espírito natural do ser humano em equilíbrio com as suas energias e com o Universo.
(Artigo publicado nos jornais Prana/RJ e Java/SP)